segunda-feira, janeiro 11, 2021

Sair do WhatsApp?

Compensa não sair do WhatsApp?

Qual seria o objetivo mais importante da mudança de política de privacidade do WhatsApp?

Aguimon, 11/01/2021

         Tenho um palpite sobre a pergunta acima. Alguém acredita que plataformas como o WhatsApp sempre ignoraram os perfis de seus usuários? Por que anunciar algo que já é feito normalmente, a meu ver?

Qual a melhor forma de desarticular grupos que estão se comunicando e espalhando outras visões de mundo? Anunciar algo que amedronta as pessoas para que elas tomem decisões inoportunas e se dividam.

A notícia sobre mudanças na política de privacidade da referida plataforma já está funcionando para a direita/conservadores debandarem em direção a outras plataformas. E se depois de algum tempo o Telegram, o Parler, o Signal etc. também anunciarem mudanças na política de privacidade? Para onde migrar? Quem garante que os ex-usuários do WhatsApp já não estão com seus perfis devidamente registrados? Você tem certeza que o Telegram não vai se beneficiar de seus dados ou perfil? Alguém acha que essas plataformas não se comunicam?

Na Inglaterra do século XVIII foi disseminada uma notícia de que um enfurecido operário britânico, chamado Ned Ludd, havia quebrado as máquinas da fábrica de seu patrão. A motivação teria sido o baixo salário e as péssimas condições de trabalho. Era uma época de intensas inovações tecnológicas com substituição de mão de obra e formação de grandes massas de trabalhadores sem empregos. Quem estava empregado se sujeitava aos baixos salários.

Vários operários se inspiraram nesta história e protestaram quebrando as máquinas dos seus locais de trabalho, atribuindo às mesmas suas condições de miséria. Nascia o movimento denominado “Ludismo”.

A rejeição ao WhatsApp não seria uma forma de Ludismo desses tempos de inteligência artificial? Alguém acha que vai se beneficiar, GRATUITAMENTE, de uma eficiente rede de transmissão de dados e comunicações? Se não pagamos um boleto mensalmente por um serviço, significa dizer que NÓS somos o boleto. Que nossos perfis e dados são os ativos dessas plataformas. As empresas nos oferecem um serviço e em troca elas identificam nossos perfis e nos vendem diversos produtos. Não existe almoço grátis.

Quando eu consulto livros na internet, quase em tempo real recebo inúmeras sugestões de títulos e assuntos semelhantes ao que eu consultei. E acabo comprando dois livros ao invés de um. E por aí vai. Bem-vindo ao mundo real das inteligências artificiais.

Você abriria mão de todos os seus contatos? Temos contatos com grupos de trabalho, com familiares, com a farmácia, com o salão de manicure, com a barbearia, com a escola do filho, com a oficina mecânica, com o motorista da van escolar etc. etc. Se é para protestar, o protesto tem que ser integral.

O que não fazer?

Não devemos nos comportar como aqueles operários do Movimento Ludista. Ao invés de quebrarem as máquinas teria sido melhor terem aprendido a consertá-las e aprimorá-las. Se tornariam valiosos para os patrões e teriam elementos para barganhar. Mas eles não tinham as informações que temos hoje. Ao invés de sairmos do WhatsApp, motivados porque a plataforma vai acessar nossos dados (o que já faz), vamos usá-la cada vez mais a nosso favor, com sabedoria e evitando a divulgação de mensagens duvidosas e/ou xingamentos. Nosso objetivo é conquistar territórios com a legítima divulgação de outras visões de mundo. Então, vamos nos conscientizar de que nossos perfis é o pagamento pelo uso da plataforma. É isto ou viver dentro de uma caverna.

NÃO somos criminosos para mudarmos de território e nos escondermos em outro, como se outro território oferecesse segurança de dados. Somos inteligentes o suficiente para vencermos a censura e não deixarmos que os adversários nos vençam por meio de uma autocensura com o abandono voluntário da plataforma. Existe melhor estratégia de censura do que a autocensura? Temos vocabulário e conhecimento suficiente para usarmos a nosso favor sem necessidade de apelarmos para difamação de quem quer que seja. Se temos potencial por que sucumbir numa espiral do silêncio?

A autocensura e/ou o silêncio são bem-vindos, mas nos momentos oportunos. Infelizmente muitos não sabem usar o silêncio quando, de fato, é necessário.

 A saída dos conservadores/direita do WhatsApp significa abandonar o campo de batalha e deixar que a plataforma se transforme num veículo exclusivo de divulgação das ideias dos adversários. Eles falam em progressismo, em direitos das minorias, em direitos reprodutivos das mulheres, em defesa do meio ambiente, enfim, tais expressões, que ninguém vai ser contra, são apenas instrumentos para se alcançar algo cujo conteúdo é obscuro. Com certeza nem mesmo boa parte da militância sabe o que estão de fato defendendo.

Os adversários nunca abandonam os territórios onde já fincaram raízes. Se a onda não é favorável eles não fogem e tampouco batem de frente, mas mergulham. Adaptam-se aos novos tempos. Mudam de nomes, adotam novas linguagens, mudam a cor das embalagens. E o que fazem os conservadores? Não conservam o território onde já estão trabalhando. Se separam, viram nômades e nunca conquistam novos territórios. Os conservadores só serão visíveis e conhecidos se estiverem dentro do sistema, ocupando espaços. Não se consegue o direito à propriedade pelo instituto da usucapião sem ocupar o espaço pretendido.    

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