quinta-feira, junho 09, 2005

A OPÇÃO ERRADA DO GOVERNO

Ainda sobre o movimento na Capital, é preciso dizer algumas coisas que julgo fundamentais:
A opção do governo e da prefeitura é esta mesmo, e que paguem os policiais e a maioria dos manifestantes que estão agindo de forma legítima.
Companheiros praças foram feridos à pedradas em frente à Câmara de Vereadores na noite de ontem. Estavam sem escudo, sem capacete e sem qualquer outro meio de defesa que não um revolver ou pistola. Foram obrigados à retirada para não usar arma de fogo, enquanto a maior parte do efetivo, com as melhores defesas e armas, estava garantindo a cabeceira da ponte para fazer cumprir a vontade do prefeito da Capital, Dário Berger.
Todos sabemos que a manifestação é legítima, e já não precisa voltar aqui à tecla do preço impraticável das passagens do transporte coletivo na Capital.
Todos sabemos também que em toda (ou quase toda) manifestação popular aparece muita gente cujo objetivo principal não é a reivindicação do movimento. Neste caso em especial, teima em prevalecer um grupo que não passa de duas centenas de pessoas, que não tem qualquer objetivo relacionado à reivindicação do movimento. O movimento reúne até 4 mil pessoas, cuja imensa maioria é bem intencionada e se manifesta contrária a depredações, agressões à policiais ou qualquer ato de vandalismo. Mas a "turba" de cerca de 200 continua prevalecendo.
Ontem isso ficou ainda mais claro: o caminhão de som chamava os manifestantes a permanecerem agrupados entre o TICEN e o acesso às pontes. Mas o grupo dissidente optou por tomar outro caminho. Este mesmo grupo, de volta ao TICEN, decidiu investir para dentro do terminal, com pedras, paus e estilingues. Esse processo foi comandado por uma pessoa em especial, que tem nome e certamente a inteligância da Polícia sabe quem é. Mas este sujeito continua solto, e tem um objetivo muito claro: dividir o movimento e fazer prevalecer a tática do caos.
Três das principais lideranças legítimas do movimento foram presas já na segunda-feira, primeiro dia das manifestações. Outras tantas lideranças estão também na lista dos que serão presos se aparecerem na praça. Assim, o tal sujeito, escudado por alguns apoiadores, fica muito à vontade para provocar a barbárie. E sai ileso e livre para voltar no dia seguinte, sempre na hora certa para pratrocinar mais um episódio lementável.
Como dissemos na nota de antes de ontem, à Polícia e às autoridades do Governo, cabia o esforço para restabelecer a liderança legítima do movimento, isolando os provocadores e vândalos, elegendo a razão como parâmetro. Esse esforço se mostrou inócuo na noite de ontem, pois a ordem vinda do Governo é esta mesmo: deixa o caos prevalecer e depois "usa a força necessária". Ou seja, se as duas centenas de mal intencionados jogarem pedra na Polícia, quebrarem prédios públicos e privados, se justifica a repressão.
Esta é a opção do Governo, que está à serviço do prefeito da Capital, do PSDB, em nome de uma aliança que viabilize a reeleição do ano que vem. Só isso justifica essa atitude do governador, oposta àquela que tomou no ano passado, quando a determinação foi deixar a manifestação seguir seu curso normal. No ano passado a ponte poderia ser ocupada, este ano NÃO, só porque a prefeita da época era da oposição e o atual é aliado do Palácio???
E nós policiais somos vítimas desses interesses políticos. Somos ao mesmo tempo vítimas dos vândalos e algozes da minifestação legítima. Inclusive o Comando das operações, ao que se percebe pelas ordens recebidas, gostaria que fosse diferente. Mas todos estamos ali para cumprir ordens, ordens vindas do Palácio, ou melhor, do prefeito. O Governo do Estado não deveria se colocar tão servil ao partido aliado.

A tática na segunda-feira foi prender os líderes, ontem foi prender à esmo um grupo considerável. Duas táticas erradas! Não resolvem o problema, pelo contrário, pioram a situação. O movimento não vai refluir, pode é tomar outros rumos.
A sociedade também está em prejuízo, pois o efetivo policial está todo ocupado para conter a manifestação, pouco importando a Segurança Pública. Claro, importa mais para os defensores da injusta ordem atual, a defesa desta ordem. Segurança Pública fica para o dia que der tempo. Somos contrários a esta forma de ver a tarefa dos órgãos de segurança.
Se o Governo quer saber como parar a quebradeira e o caos na cidade, pode perguntar que nós falamos. Mas se interessa mesmo defender o orgulho do prefeito e os interesses dos empresários, então continue emitindo as mesmas ordens. Nós, lamentavelmente, cumpriremos, em prejuízo do conceito da nossa Instituição, em prejuízo da segurança da sociedade, em prejuízo do nosso descanso e convívio familiar, em prejuízo de direito de ir e vir de todas as pessoas e em prejuízo, inclusive, da nossa integridade física.
E os trabalhos da APRASC, como a próxima edição do jornal O Praça, estão prejudicados, pois estamos todos ocupados em fazer prevalecer a vontade do prefeito da Capital e os interesses do empresários. Lamentavelmente!!!

Florianópolis, 03 de junho de 2005.

Amauri Soares
2º Sgt PM - Presidente da APRASC


Alguém discorda ??? Eu não.

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